terça-feira, 2 de setembro de 2014

Por que estão zoando a Marina Silva?

Nos últimos dias, a candidata à presidência da República, Marina Silva, passou a ser objeto de várias brincadeiras nas redes sociais. O motivo foi que sua coligação lançara na última sexta-feira (29) seu programa de governo apoiando o casamento gay, a aprovação da PlC 122 e a retomada dos projetos anti-homofobia nas escolas (projeto que Jair Bolsonaro denominou pejorativa e erroneamente como "kit-gay"), porém, no dia seguinte, ela apresentou uma errata retirando todos esses apoios. Coincidência ou não, a retirada dos apoios ocorreu após a candidata ter sido vítima da fúria, também via redes sociais, do pastor Silas Malafaia, que não se conformava com a nova posição de Marina Silva. Para justificar a mudança de postura quanto aos temas LGBT, a candidata afirmou ter havido "uma falha processual na editoração" em seu programa de governo. No entanto, essa explicação não mais se sustenta pois Luciano Freitas, coordenador do núcleo LGBTT da campanha de Marina Silva, confirmou que não houve engano e sim mudança de apoio. Por isso tudo Marina Silva passou a ser associada como uma candidata que afirma posições, mas muda de ideia.

sábado, 14 de maio de 2011

O que é "circopaulasouza"?

A hashtag "circopaulasouza" faz alusão ao Centro Paula Souza, autarquia que é (ir)responsável pelas Etec's e Fatec's.
O termo foi criado nessa semana para mobilizar, via Twitter, apoio à greve de docentes e funcionários iniciada ontem (13 de maio).
O governo do PSDB paulista nunca vai se importar com a educação de fato e a greve e a mobilização nas redes sociais prova isso.

sábado, 12 de junho de 2010

Colônia de povoamento X Colônia de exploração

Aula sobre a independência do Estados Unidos. Inevitavelmente nos deparamos com a distinção entre colônias de povoamento e colônias de exploração e, então, um estranho sentimento de alívio: "Ah, então, é por isso que o Brasil se tornou um país subdesenvolvido e os Estados Unidos, uma potência?" Não, porque essa diferença foi inventada pela historiografia. "Mas, então, qual a diferença entre as colonizações do Brasil e dos Estados Unidos?" Nenhuma. A diferença somente aparece porque não se entende muito bem o sentido das colonizações.
Toda colônia moderna (da Idade Moderna, 1453-1789) foi formada com o propósito de ser explorada. Assim como Portugal e Espanha, a Inglaterra também queria um território que obrigatoriamente produzisse matérias-primas baratas e comprasse produtos manufaturados. E ela conseguiu. Se apropriou de um território pertencente à Espanha e instalou ali sua colônia.
O problema é que todo projeto de colonização necessitava de dinheiro, principalmente, para a fiscalização, para garantir que o conhecido Pacto Colonial fosse cumprido. Afinal, de que adiantava investir em um território que poderia ser ufruído por todos os outros países?
No entanto, a Inglaterra almejou mais do que podia bancar e acabou concetrando a fiscalização no sul das Treze Colônias para evitar que seus produtos mais importantes, como o algodão, fossem negociados com potências concorrentes. Dessa forma, por várias décadas, as colônias do norte sofreram menos pressão e, em consequência, acumularam mais capitais em vez de gerar lucros à sua metrópole. Quando, na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra havia se tornado rica e poderosa, já era tarde para reivindicar e forçar o cumprimento do Pacto Colonial por suas colônias do norte, e a guerra pela independência estourou.
Mas, ainda existe uma diferença: a grande propriedade do sul em oposição à pequena propriedade no norte. Também não é isso que explica as definições de colônia de povoamento e de exploração. A distribuição de terras no sul da Treze Colônias, assim como no Brasil, foi fruto de investimentos da metrópole. Para um dono poder garantir a produção de terras tão extensas foram necessários financiamentos de mão-de-obra, de sementes e ferramentas, ou seja, investimento da metrópole inglesa. Agora, se para as colônias do norte não havia tanto dinheiro para a fiscalização, também não era viável receber tanto investimento. Assim, as colônias do norte, que possuíam menos capital, acabaram formando propriedades bem menores e, portanto, uma maior distribuição de renda. Esse sim pode ter sido um dos motivos para o surgimento de um Estado rico, com uma democracia muito mais representativa que a nossa.
No entanto, tamanho de propriedade não define modelo de colonização e, na Idade Moderna só existiu um tipo de colônia, a de exploração.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Escravidão indígena e africana no Brasil Colônia

Pergunte a qualquer aluno da rede pública estadual paulista: por que a escravidão indígena foi substituída pela africana no início da colonização da América? Eis as possíveis respostas que obterá: "porque os índios eram preguiços e vagabundos e não gostavam de trabalhar", "porque os índios conheciam o território e fugiam", "porque os africanos eram mais resistentes ao calor e ao trabalho duro", e "porque os índios tinham alma e os africanos não".
Tais respostas ainda são erroneamente ensinadas por professores, pela mídia e por alguns livros didáticos não-atualizados e são facilmente apreendidas pelos alunos, provavelmente, porque são explicações que ratificam preconceitos muito incorporados à sociedade brasileira: a herança indígena responsável pela formação de um povo brasileiro pouco propenso ao trabalho, e os africanos como "raça" bruta pronta a ser lapidada a partir dos valores do trabalho duro.
Para desconstruir tais explicações, devemos entender direito o que era uma colônia moderna e qual a finalidade de sua criação.
Todos devem ter aprendido que as possessões europeias dos séculos XV, XVI, XVII e XVIII eram territórios que deviam servir aos interesses das respectivas metrópoles e, por isso, era imposto o Pacto Colonial (um conjunto de regras que, grosso modo, proibiam as colônias de comercializarem com outros países e de produzirem manufatura para não concorrerem com a metrópole). Todos aprendemos também que na América havia inúmeras culturas indígenas, quase todas dizimadas pelos colonizadores e algumas utilizadas como mão-de-obra escrava, e que a escravidão não era uma prática que existia para respeitar a vontade do escravo. Então, do que valeria os índios serem substituídos pelos africanos se ninguém gosta de trabalhar como escravo? Se inúmeros índios foram mortos gratuitamente, por que seria um problema eles não suportarem o calor (com o qual, inclusive, eles já estavam acostumados)?
Então, por que os colonos portugueses substituiram seus escravos indígenas por africanos? Na verdade, os colonos foram obrigados a passar a comprar escravos africanos para que a metrópole criasse mais um meio de ganhar dinheiro com a exploração da colônia. Por que os colonos aceitariam uma mudança tão prejudicial ao seu lucro? Porque eles não mandavam em nada, para ganhar a vida aqui deviam seguir as imposições da metrópole e da Igreja Católica, que produzira a desculpa do africano sem alma para legitimar sua escravidão e garantir seus lucros com os reinos católicos.
E quanto às fugas frequentes, os índios conheciam mais o território brasileiro? Claro que não. Talvez um pouco mais da região onde foram capturados. Por outro lado, os africanos também fugiam e formavam quilombos.
Some-se a essas explicações sobre a origem da sociedade brasileira uma comparação errônea entre o sentido de nossa colonização e o mito da colonização de povoamento dos Estados Unidos e você terá a justificativa para acreditarmos em tais preconceitos: os Estados Unidos mataram seus índios e, apesar de colônias, "deram certo" e nós não.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A geografia dos países desenvolvidos

“Sabe por que os países de clima frio são mais desenvolvidos? Porque nesses lugares o inverno é muito rigoroso, tudo fica congelado. É o que acontece com a Europa; por isso, os europeus precisam trabalhar muito durante o verão, para armazenar comida para o inverno. E é existência dessa dificuldade que acaba fazendo com que as pessoas de lá sejam mais propensas ao trabalho e a sociedade se desenvolva mais rapidamente. O mesmo não acontece com o Brasil e os outros países quentes, onde clima, bom o ano inteiro para o cultivo de alimentos, acaba não estimulando as pessoas a trabalhar.”

Com certeza você já ouviu essa explicação, e saiba que ela é largamente disseminada e reproduzida na sociedade brasileira. Mas, ao mesmo tempo, ela também é facilmente contestada.

Para começar a criticar os argumentos, a primeira definição que devemos ter em mente é que a explicação do desenvolvimento europeu pela geografia DEVE se remeter ao período anterior à invenção da geladeira (e de outros meios industriais de conservação), pois deve demonstrar como as culturas de clima temperado construíram sua supremacia apesar das adversidades. Agora já podemos nos perguntar: que tipo de país se tem em mente para tornar essa explicação possível? E a resposta é sempre a mesma: um lugar em que solo e rios ficam congelados durante seis meses, onde, inclusive, seria possível deixar os alimentos do lado de fora das casas para congelar e preservar. Esse lugar é passível de existir — bem ao norte dos Estados Unidos e Canadá, na Islândia, norte da Suécia e Noruega —, mas não é a verdade de grande parte dos países europeus. Todas as grandes potências, coloniais ou não, da Europa — Portugal, França, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Holanda, Itália etc. — possuem inverno mais rigoroso que o Brasil, no entanto, nada a ponto de obrigar seus habitantes a se trancarem em casa e esperar o inverno acabar.
Ou seja, a argumentação em prol da maestria dos "países frios" esbarra no fato de que os "mais desenvolvidos" (França, Alemanha, Inglaterra, Suíça e Holanda) não são os mais congelados. E esse é somente um dos indícios de que riqueza não se relaciona com temperatura ou relevo.

Por outro lado, realmente não há meios de se obter em pleno inverno os mesmos alimentos que poderiam ser adquiridos no verão. Porém, assim como se pratica nos países tropicais, a solução é, e sempre foi, cultivar alimentos de acordo com a estação do ano. Afinal, para nós, o morango some no verão e o mamão, no inverno, mas nunca deixamos de ter frutas. E, o mais importante, desde as primeiras civilizações sedentárias conhecidas, o comércio sempre foi a prática que garantiu às culturas de regiões menos férteis a possibilidade de existirem em lugares tão inóspitos. Ou seja, não tem alimentos, venda manufaturas.

Obviamente, isso não quer dizer que a estocagem de alimentos não era conhecida por algumas sociedades. Sabemos que desde as primeiras civilizações sedentárias do Mundo Antigo, como a Mesopotâmia (atual Iraque) e o Egito, já havia a prática de se conservar grãos por um período relativamente longo. Mas, como indicam esses próprios exemplos da Antiguidade Oriental (regiões com temperaturas elevadas), a conservação e a estocagem de algum tipo de alimento NÃO são práticas exclusivas dos países de clima frio e, portanto, não podem ser apontadas como justificativa para a riqueza de alguns países e, muito menos, como determinante do valor de qualquer cultura.

Ou seja, primeiramente, não são os países "mais frios" os mais "desenvolvidos" e, em segundo lugar, "trabalho duro" e estocagem de alimentos não garantem o tal desenvolvimento.

Mas, então, por que alguns países europeus, os Estados Unidos e o Japão, por exemplo, são tão "desenvolvidos"? Deixaremos a questão sobre que raios quer dizer "desenvolvimento" para outro artigo. Por agora, respondo que os países acima mencionados enriqueceram porque tiveram a possibilidade de enviar menos dinheiro ao exterior do que os outros. Infelizmente, isso quer dizer que, naqueles lugares, os grupos grosseiramente chamdos de burguesia (que vive da usura e do lucro excessivo) ganharam disputas políticas e conseguiram instaurar sua maneira de ver e agir em sociedade. O problema é que nós, "terceiro mundo", resolvemos entrar nessa lógica sem ter condições de concorrer, por isso, somos os clientes dos usurários.

sábado, 22 de agosto de 2009

O perigo da lei antifumo

O governo do Estado de São Paulo foi extremamente inconsequente na forma como buscou legitimar a lei antifumo. Para dar tempo de ser usada na campanha eleitoral do ano que vem, o PSDB atropelou a discussões sobre os males provocados pelo cigarro, as necessidades e possibilidades para implantação da lei e suas consequencias sociais, e a empurrou goela abaixo. A fim de ser aceita de forma mais rápida e "legítima", o governo paulista ignorou todas as controvérsias médicas a respeito do cigarro, do real perigo causado pelos fumantes aos não fumantes, fez pouco caso das argumentações reivindicavam liberdade e transformou os fumantes em vilões.
Por causa dessa postura anti-democrática e de desespero eleitoreiro, não fumantes tem se achado no direito de interpelar fumantes na rua, chegando a agir com agressividade contra os mesmos. E, de forma incoerente, os não fumantes sequer questionam o quanto seus próprios carros poluem o ar que respiramos e como a medida paulista gera mais ódio social do que qualidade de vida para quem não fuma.
Os fumantes se tornaram bode expiatório de um problema sem solução aparente. Para piorar, o radicalismo e emergência da lei antifumo criou um sentimento de opressão aos fumantes digno daqueles sofridos por gays, negros, mulheres etc. Não é dessa forma que se implanta uma lei controversa. Imagina se o presidente dos EUA tenta reformar o sistema de saúde sem discutir com os americanos reacionários ou se o Lula tivesse decretado o fim das posses de armas sem permitir que a sociedade a debatesse primeiro.
Num momento tão decisivo de luta contra os preconceitos e as práticas de ódio na sociedade brasileira, vem o governo de Estado de São Paulo andar na contramão da democracia e da harmonia.

Professores da rede pública, principalmente do Estado de São Paulo

Eu não sei exatamente o que incentiva a postura de criticar o professorado público brasileiro: se é alguma mídia ou a ignorância, o que dá no mesmo. O fato é que parte da população brasileira com dinheiro vive para duvidar do trabalho e da índole dos professores das redes públicas, afirmando que além de ganharem bem, ainda contam com muitas facilidades.
Eu não sei em que mundo essas pessoas vivem, mas o que eu duvido é que algum dos reclamões lute tanto para conseguir trabalhar quanto os professores o fazem. São horas gastas ao longo do mês para chamar a atenção, pedir silêncio, respeito e, então, conseguir alguns minutos para ensinar. A molecada acaba com a voz, o giz (na rede pública estadual de São Paulo pelo menos só se conta com giz e lousa), com as mãos e a garganta. Mas, mesmo assim, dizem por aí que os professores são folgados e só sabem é fazer greve e pedir aumento todo ano. Bom, saiba você, que aquele aumentozinho previsto em Constituição e em outras legislações para acompanhar as perdas com a inflação, aquele aumento que você, seu pai, sua esposa, seu marido, até seu avô aposentado recebem todos os anos, é completamente ignorado e negado acintosamente aos professores pelos governos.
Somente para você que acha que os professores das redes públicas ganham bem, saiba que a greve do ano passado em São Paulo resultou em um aumento salarial (depois de DEZ anos de congelamento) do valor da hora-aula, que era R$6,00 (as escolas particulares mais baratas costumam pagar R$15,00, mas esse valor pode chegar tranquilamente a R$50,00, com casos de até R$100,00 a hora-aula, brincadeira?!). Após esse aumento que os professores da rede pública de ensino do Estado de São Paulo receberam no ano passado (e, assim como o Cometa Halley, vai demorar anos para ser visto de novo), você, que acha que os professores ganham bem, agora tem toda a razão para reclamar, pois o valor da hora-aula chegou aos R$7,00!!!!!!
É um absurdo mesmo algum funcionário público ganhar tanto! E eu, de verdade, acho que você que reclama tanto deveria abandonar seu emprego e se inscrever para dar aula. Mas não se inscreva em qualquer rede pública, pois somente a do Estado de São Paulo, sob o governo do PSDB, oferece condições tão invejáveis. Boa sorte no novo emprego dos sonhos!